As principais ineficiências do Mercado de Capitais para os investidores
calendar_month 19/06/2024
No universo dos investimentos, a análise criteriosa e a compreensão das ineficiências do mercado de capitais são fundamentais para tomar decisões acertadas.
Neste artigo, exploraremos a visão de Marcelo Urbano (Sócio Fundador e Diretor de Investimentos na Augme Capital) sobre essas ineficiências, com foco nas dificuldades enfrentadas por gestores e investidores.
Marcelo foi o convidado do Talkenização no qual falou sobre as principais ineficiências do mercado de capitais do Brasil, o que é simetria no mercado financeiro, como as ineficiências impactam os investidores e gestores de investimento e como a tecnologia blockchain e de tokenização pode ajudar a reduzir as ineficiências no mercado de capitais
Ineficiências do Mercado de Capitais no Brasil
As ineficiências que dificultam o processo de investimento no mercado de capitais são complexas. Por isso, Marcelo Urbano tenta simplificar em 3 principais pontos.
Liquidez
Uma das principais ineficiências no mercado de capitais brasileiro é a falta de liquidez.
A estrutura do mercado, com seus veículos específicos para CRIs, papéis de infraestrutura e outros, cria bolsões de liquidez que dificultam a negociação.
O mercado todo do papel incentivado tem corretoras que oferecem, a pessoa física não tem acesso como os profissionais têm.
Ele paga caro para comprar e acaba vendendo barato para sair, porque há sempre um intermediário para fazer a transação para ele.
Quando investe em papel incentivado, isso pode atrapalhar um fundo, porque muda o preço de maneira artificial. A liquidez se deve a vários fatores, esses bolsões principalmente devido aos papéis incentivados.
Para fazer um investimento precisa estudar, porque tem poucos investidores dispostos e com tempo e capacitação técnica para entender aquele investimento. Quanto menos investidor você tem, menos liquidez você tem.
A falta de investidores qualificados e de tempo para estudar os investimentos agrava essa situação, tornando a liquidez um desafio constante.
Também o mercado ainda é jovem, embora o mercado de capitais tenha crescido muito, há 10 anos atrás, 85% dos ativos estavam nos 5 principais bancos, hoje já está mais democratizado, porém, ainda tem muita coisa na mão dos bancos.
Onde está o maior volume desse portfólio, onde tem mais histórico, está nos bancos, então a simetria é mais complexa que a de um banco.
Burocracia e Padronização
O mercado brasileiro ainda sofre com processos burocráticos e a falta de padronização.
Minutas de debêntures variam amplamente, mesmo com a tentativa de padronização pela Anbima, resultando em apenas 50% de adesão.
A obtenção de quórum em assembleias é difícil, especialmente quando os papéis estão pulverizados entre investidores individuais.
Além disso, a execução de garantias e a contratação de profissionais necessários tornam os processos morosos e complexos.
Ineficiência do Judiciário
A falta de padronização nas decisões judiciais e as diversas interpretações do Código Civil criam incertezas adicionais.
Essa ineficiência jurídica impacta diretamente a segurança dos investimentos e a velocidade de resolução de problemas.
O que é Simetria e Assimetria no mercado financeiro?
No mercado financeiro, os conceitos de simetria e assimetria são fundamentais para entender como as transações são realizadas e como os participantes do mercado ganham dinheiro.
Simetria
Simetria, em termos de informação, ocorre quando ambas as partes de uma transação possuem o mesmo nível de informação e entendimento sobre os ativos envolvidos.
Em outras palavras, tanto o comprador quanto o vendedor têm acesso às mesmas informações e compreendem igualmente os riscos e benefícios associados ao investimento.
Um mercado com alta simetria de informação tende a ser mais eficiente, pois as decisões de compra e venda são baseadas em um entendimento comum e equilibrado dos dados disponíveis.
Em tais mercados, a formação de preços é mais justa, já que não há vantagem informacional para nenhuma das partes.
Assimetria
Por outro lado, assimetria de informação ocorre quando uma das partes em uma transação possui informações ou entendimentos que a outra parte não tem.
Isso pode acontecer quando um investidor tem acesso a dados exclusivos ou possui uma capacidade superior de analisar e interpretar informações públicas.
A assimetria de informação pode criar vantagens significativas para a parte mais informada, permitindo-lhe tomar decisões de investimento mais lucrativas.
No mercado financeiro, a assimetria é um fenômeno comum e pode ser explorada de várias maneiras.
Investidores profissionais, por exemplo, podem dedicar mais tempo e recursos para estudar os riscos e oportunidades de um investimento, enquanto investidores menos experientes podem não ter a mesma capacidade ou acesso a informações detalhadas.
Essa desigualdade pode levar a cenários onde os investidores menos informados compram ativos a preços elevados ou vendem a preços baixos, enquanto os mais informados lucram com essas transações.
O impacto nos investimentos
As dinâmicas de poder no mercado financeiro frequentemente exacerbam as assimetrias de informação.
Grandes instituições financeiras, como bancos e fundos de investimento, têm acesso a recursos analíticos e dados que os investidores individuais normalmente não possuem. Isso lhes permite identificar oportunidades de investimento e riscos de forma mais eficaz.
Embora o mercado financeiro seja em grande parte regulado para minimizar os efeitos negativos da assimetria de informação, como práticas de insider trading (uso de informações privilegiadas), a realidade é que o conhecimento e a capacidade de interpretar dados continuam a ser distribuídos de maneira desigual.
O mercado financeiro, portanto, frequentemente lucra com essa assimetria.
A habilidade de compreender e navegar através das informações disponíveis pode ser a chave para o sucesso no mercado, permitindo que investidores bem informados identifiquem oportunidades e evitem riscos que outros não conseguem perceber.
Quais são os principais prestadores de serviço envolvidos nos investimentos em crédito e como atuam?
As operações de mercado de capitais precisam obrigatoriamente de diversos prestadores de serviços, cada um desempenhando funções específicas que garantem a eficiência e a segurança das transações.
Abaixo, detalhamos os principais tipos de prestadores de serviço envolvidos e como suas atuações impactam a eficiência do mercado.
Agente Fiduciário
O agente fiduciário é o representante do investidor e tem a responsabilidade de garantir que as cláusulas contidas na escritura do documento de investimento sejam integralmente respeitadas.
Ele zela pelos interesses dos investidores, assegurando que regras importantes, como eventos de vencimento antecipado, recomposição de garantias, regras para recompra de papéis pela companhia e quórum de decisões, sejam cumpridas.
Em caso de descumprimento, como uma queda na garantia exigida, o agente fiduciário organiza assembleias para deliberar sobre ações corretivas, como a recomposição da garantia ou o pagamento de uma taxa de waiver.
A atuação diligente do agente fiduciário é crucial para manter a confiança dos investidores e a integridade do mercado.
Securitizadora
No caso de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), a securitizadora desempenha um papel vital.
Registrada na CVM, a securitizadora detém o ativo e controla o fluxo de caixa do papel, monitorando os pagamentos e vencimentos.
Ela também é responsável por fornecer informações recorrentes ao agente fiduciário, assegurando a transparência e a regularidade das operações.
A eficiência da securitizadora contribui para a segurança dos investidores e a estabilidade do mercado de capitais.
Administradores de Fundos de Investimento
Os fundos de investimento, que possuem CNPJs próprios e regulamentos específicos, têm administradores responsáveis por representar os investidores e cuidar do passivo (investidores) do fundo.
Esses administradores podem ser bancos ou administradores independentes.
Eles garantem que as operações do fundo estejam em conformidade com os regulamentos e que os interesses dos investidores sejam protegidos.
Gestor de Investimentos
O gestor de investimentos é responsável por administrar a carteira de ativos, realizando os investimentos e gerenciando os riscos associados.
A competência e a diligência do gestor são essenciais para o desempenho do fundo e, consequentemente, para a satisfação dos investidores.
Agente de Garantia
Não regulado pela CVM, o agente de garantia é contratado para cuidar de garantias específicas, como uma imobiliária no caso de uma obra em particular.
Esse agente garante que as garantias oferecidas sejam periodicamente avaliadas e mantidas em conformidade com os termos acordados.
Consultor de Crédito
O consultor de crédito pode ser contratado para monitorar e avaliar ativos específicos que exigem conhecimento especializado.
A empresa consultora, reconhecida pela sua expertise, realiza o acompanhamento de crédito e é remunerada pelo fundo por seus serviços.
A atuação do consultor de crédito assegura que os investimentos sejam baseados em avaliações precisas e informadas, aumentando a eficiência do mercado.
Como as ineficiências impactam os investidores individuais e os gestores de investimento?
Para o investidor comum, que possui formações típicas de faculdade, a principal dificuldade é a obtenção de informações.
Este tipo de investidor geralmente não tem tempo suficiente para estudar detalhadamente cada oportunidade de investimento. Acabam comprando papéis diretamente através de corretoras, pagando prêmios mais altos e enfrentando dificuldades na venda.
A experiência e o entendimento profundo das operações e dos riscos envolvidos se desenvolvem com o tempo e a prática.
Estudar e entender os riscos óbvios é acessível para qualquer investidor, mas uma coisa é analisar uma operação do setor imobiliário, outra é entender uma do setor agrícola, que pode apresentar milhares de oportunidades diferentes.
Conforme aumenta a variedade de setores, aumenta também a complexidade e o volume de informações que precisam ser estudadas e compreendidas.
Outro desafio importante envolve os detalhes na estrutura dos ativos, como CRI e CRA, que possuem diferentes tipos de garantias.
Alguns modelos de garantia são mais aceitos pelo judiciário e mais fáceis de executar, enquanto outros são menos enforçáveis. Esses detalhes podem ser complexos e difíceis de entender para investidores menos experientes.
Para a pessoa física, o maior problema é adquirir esse conhecimento especializado.
Então, uma solução é contratar um gestor ou um consultor que possa oferecer o conhecimento e a experiência necessários para avaliar adequadamente as oportunidades de investimento em crédito.
Family offices e consultores podem ajudar a mitigar essas ineficiências, oferecendo uma abordagem institucional e acesso a investimentos com melhor curadoria, enquanto a tecnologia não se dissemina para diminuir as assimetrias.
Quais são as principais armadilhas que os investidores devem evitar ao investir em crédito?
Marcelo ofereceu algumas dicas para investidores se manterem atentos quando o assunto é crédito.
Resumimos elas abaixo para você (mas você pode conferir tudo o que ele falou na íntegra no podcast)!
Promessas de Gratuidade
Um dos principais perigos é a oferta de serviços gratuitos.
Ninguém trabalha de graça. Prefira deixar seu dinheiro com alguém que cobra uma taxa justa (por exemplo, 0,5% ou 1% ao ano) pelo serviço prestado. Quando dizem que não cobram, desconfie.
Pesquise a reputação e a experiência dos gestores de fundos e consultores de investimento. Profissionais qualificados podem ajudar a evitar armadilhas e a identificar boas oportunidades de investimento.
Canto da Sereia
Assim como os navegantes da mitologia que eram atraídos pelas sereias para a morte, os investidores podem ser atraídos por promessas irrealistas de ganhos fáceis (o “FOMO” – Fear of Missing Out).
Desconfie de esquemas que prometem ganhos rápidos e fáceis.
O verdadeiro ganho vem do estudo, trabalho e dedicação. Evite acreditar em investimentos milagrosos e fique longe de esquemas de pirâmide.
Falta de Informação
A falta de informação é um grande risco. Muitas pessoas fingem saber mais do que realmente sabem e não compartilham suas perdas.
Entenda os riscos associados a cada investimento, incluindo riscos de crédito, de mercado e de liquidez.
Procure informações completas sobre os riscos envolvidos e discuta com outros investidores experientes.
Garantias Superestimadas
Avaliações exageradas de garantias imobiliárias podem ser enganosas.
Sempre questione a liquidez e o valor real das garantias. Um imóvel pode ser bonito, mas seu valor de mercado pode não justificar o investimento.
Vale a pena avaliar a liquidez e o valor real das garantias imobiliárias. Verifique se a análise foi feita por um avaliador independente e confiável.
Simplificação Excessiva
Isso significa fazer parecer que os investimentos são simples e que requerem pouca análise.
Reconheça que os investimentos em crédito são complexos e exigem análise cuidadosa.
Analise a transparência e a qualidade das informações fornecidas pelos emissores dos títulos de crédito. Informações claras e detalhadas são essenciais para tomar decisões informadas.
Falta de Diversificação
O problema é investir uma grande porcentagem do capital em um único ativo. Diversifique seus investimentos!
Para pequenos investidores, é crucial não concentrar todo o capital em poucos ativos.
Utilize fundos de investimento para alcançar uma carteira diversificada, mesmo pagando uma taxa de administração. Considere o custo-benefício de pagar uma taxa de administração para ter acesso a uma carteira pulverizada e gerida por profissionais.
Certifique-se de que seu portfólio é diversificado. Evite concentrar seus investimentos em poucos ativos ou setores.
Como a tecnologia blockchain e de tokenização pode reduzir as ineficiências no mercado de capitais?
O que vai facilitar a vida é a questão da simetria. Você precisa ter uma estrutura muito decente e muito grande para ter todas as informações disponíveis.
A estrutura da blockchain talvez deixe isso mais simétrico.
Não que ela seja capaz de fazer uma lição de casa de crédito, talvez com IA, a parte do trabalho de um analista, não completa, mas talvez possa ser substituída.
Fazer uma boa análise de balanço, entender risco, fazer ajustes no balanço.
O token e a tokenização vão ajudar a deixar a informação disponível, que hoje a gente precisa pegar de inúmeros campos, mais acessível para quem quiser consultar.
E, talvez, também eliminar esses intermediários, como agentes fiduciários, securitizadoras, etc., reduzindo um pouco dessas camadas.
Talvez com a tecnologia você consiga fazer isso de modo mais automatizado e sério.
Hoje, infelizmente, como a regulação não está clara, é uma camada a mais que ainda não permite captar todos os benefícios, mas estou na torcida para que num futuro próximo isso mude.
Porque todo mundo ganha com isso. Há várias vantagens na tokenização do crédito.
A liquidez, a simetria, papéis mais baratos para o tomador, ajuda a economia; crédito é muito importante para movimentar a economia, vai ter mais dinheiro para investir e pode ser transformacional para o mercado de capitais.
Conclusão
O mercado de capitais brasileiro enfrenta várias ineficiências, desde falta de liquidez e padronização até ineficiências judiciais.
Para os investidores, entender essas complexidades e buscar apoio profissional é crucial para navegar com sucesso.
As oportunidades estão emergindo, especialmente com avanços tecnológicos, que prometem transformar o mercado e oferecer um ambiente mais eficiente e acessível.
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